Ela se veste de preto em mais um dia comum.

Finalmente pronta (ou não), ela se prepara para encarar o mundo que a abandonou, que simplesmente a jogou para junto da desilusão.

“Mas ilusões são estratagemas criados necessariamente para se diferenciar a realidade do que não é real.” E assim ela parte para outro dia. Sem saber se isso é certo ou incerto: “Certo, pois é um dia normal como qualquer outro. Incerto, exatamente pelo mesmo motivo.”

Segue pelo caminho preparado há tanto tempo. Linda garota. Cabelos longos, negros. Olhos verdes, pequenas esmeraldas tocadas pelo cansaço de ver o mundo tantas vezes e, mesmo assim, ainda brilhando. Jeito de andar que chama a atenção.

Chega ao seu destino sentido o peso em suas costas, que cresce ao longo do dia.

Volta para a casa bem tarde e volta, enfim, para o que ama.

Uma lágrima quase chega a cair de seus olhos. Sua filha a espera com aquele sorriso no rosto que só as crianças podem ter. Tão familiar de quando ela mesma se olhava ao espelho e, no entanto novo, intocado pelo mundo.

O peso de seu coração diminui, mas o de suas costas não.

Faz um chá para relaxar. Analisa o aroma do chá em cada detalhe e se lembra por um momento do que lhe traz prazer.

Deita-se, para dormir enquanto ainda pode.